As bactérias não envelhecem. Podem até morrer, caso ocorra algum
acidente ou sejam privadas de alimentos, mas não envelhecem nunca.
Tanto é que, no ano 2000, cientistas decidiram ressuscitar uma
bactéria que havia ficado presa em um depósito de sal há 250
milhões de anos. Depois de reanimá-la e oferecer
nutrientes, a bactéria simplesmente voltou a se reproduzir, como se
o tempo não houvesse passado.
Outros animais também desfrutam do mesmo dom: é o caso da
água-viva turritopsis dohrnii, do peixinho
rockfish e de algumas espécies de tartarugas que vivem na
América no Norte. Todos vivem sem prazo de
validade, ao contrário de nós, humanos - e mortais.
Pode até ser que você não resista 250 milhões de anos, como a
bactéria ressuscitada, mas a ciência já é capaz de apontar o
caminho para quem está em busca da longevidade.
Uma constatação importante sobre o assunto foi feita pelo
pesquisador e escritor Dan Buettner, em
parceria com a equipe da National Geographic, em 2004,
quando se mapearam as cinco regiões do mundo onde a
possibilidade de uma pessoa alcançar os 100 anos chega a ser 10
vezes maior que a de um morador comum dos Estados Unidos.
Esses locais foram chamados por eles de "Zonas Azuis".
Mas qual o segredo desses lugares? Dan conta em seu livro The Blue
Zones quais características são capazes de explicar a
longevidade nestas regiões. São fatores compartilhados por estas
zonas azuis que prometem ser o tempero que faltava para obtermos
uma vida mais longa. Mas, primeiro, vamos conhecer esses
lugares:
Okinawa, Japão - É a província mais ao sul do
Japão, composta por 169 ilhas, e também a região com o maior
percentual de centenários no mundo inteiro.
Sardenha, Itália - Uma ilha localizada em pleno
mar Mediterrâneo, com um total de 1,65 milhões de habitantes, dos
quais 371 já haviam completado 100 anos em 2012. A maior taxa de
longevidade foi encontrada na região conhecida como Província de
Nuoro.
Loma Linda, Estados Unidos - Uma pequena cidade
da Califórnia que conquistou uma expectativa de vida dez anos mais
alta que a média americana. Cerca de metade dos habitantes locais
fazem parte da Igreja Adventista do Sétimo Dia, que segue regras
rigorosas para descanso, alimentação e exercícios.
Península de Nicoya, Costa Rica - Mais de 400
centenários vivem nesta região repleta de praias e montanhas. É o
lugar em que existe o maior número de pessoas acima dos 100 anos no
mundo.
Icária, Grécia - Estima-se que um terço da
população de Icária irá chegar aos 90 anos. A estimativa é fácil de
entender quando nos deparamos com taxas de incidência de câncer 20%
menores e de doenças cardíacas 50% menores do que em outras
regiões. A possibilidade de demência é praticamente nula na
população.
Todas estas zonasapresentam algumas características em comum e
elas podem ajudar a traçar o mapade uma vida mais longeva, segundo
as pesquisas de Dan Buettner:
Corpo em movimento
Nas zonas azuis, as pessoas não estão acostumadas a fazer
exercícios - ou, pelo menos, não da maneira como nós estamos,
reservando uma hora específica para realização de alguma atividade
física. Ao contrário,eles se mantêm em movimento, sem precisar
fazer muito esforço para isso.
Tanto na Sardenha quanto em Icária, por exemplo, grande parte da
população é acostumada a pastorear animais, o que faz com que se
mantenham em movimento.Manter um jardim em casa, caminhar até o
trabalho ou simplesmente o fato de viver em um local com escadas
também contribui para se manter em movimento sem precisar pensar
muito sobre o assunto.
Alimentação
As dietas aplicadas por estas cinco comunidades possuem muitas
coisas em comum. Enquanto o consumo de carnes é raro entre
elas - em Loma Linda grande parte da população é
vegetariana -, as frutas, vegetais e grãos são item indispensável
na mesa. Por sinal, um estudo realizado pela Universidade de Loma
Linda, em 2001, demonstrou que dietas pobres ou
isentas de gordura animal podem presentear você com dois
anos extras de vida, enquanto exercícios diários moderados são
responsáveis por um bônus de 6 anos - em compensação, fumar pode
subtrair de 10 a 11 anos dessa conta.
Obviamente, cada lugar tem sua particularidade no quesito
alimentação: em Okinawa, existe uma prática conhecida como hara
hachi bu, que significa comer até ficar 80%
satisfeito. O que parece apenas uma tradição sem muito
sentido tem mais embasamento científico do que você pode imaginar:
diversos cientistas já assumem que uma dieta restrita seja
o caminho para a longevidade. A tese é reforçada por
experimentos que indicam que, ao comer 50% menos, os ratos são capazes de
viver o dobro, e com saúde. Resultados semelhantes
foram encontrados em estudos com peixes, aranhas, cachorros,
moscas… Há indícios de que, sozinhas, as escolhas alimentares podem somar 13
primaveras à sua vida.
Bebem com moderação
Fora a cidade de Loma Linda, onde a população evita o consumo de
álcool graças à religião, todas as outras zonas azuis
aceitam sem problemas uma dose de bebida, mas seus
habitantes também sabem consumi-la com moderação.
Espiritualidade
Independente da religião ou doutrinas, a fé se mostrou
um ponto forte para essas comunidades longevas. É assim
que a população de Loma Linda lida com sua religião, com forte
apego à Igreja Adventista do Sétimo Dia ou que os habitantes da
Península de Nicoya manifestam sua profunda fé em Deus.
Frequentar serviços relacionados à fé pelo menos quatro vezes
por mês pode adicionar até 14 anos na sua vida,
independente da doutrina.
Senso de comunidade
Todas as regiões têm um profundo senso de comunidade: na
Sardenha, a família está sempre em primeiro lugar; em Loma Linda, a
Igreja é o lugar de reuniões e amizades; enquanto isso, em Okinawa,
os habitantes possuem um grupo de amigos que os acompanha
desde a infância até o fim de seus dias e com quem podem
compartilhar as felicidades e tristezas da vida.
Propósito
Em Okinawa, Dan Buettner questionou aos habitantes qual o motivo
que os fazia acordar pela manhã: todos sabiam exatamente o que
responder. Na língua local, existe até mesmo uma palavra para
definir esse proposto: ikigai. Segundo o pesquisador,
ter um propósito pode render um bônus de 7 anos
no jogo da vida.
Mas, acima de tudo, é importante saber: há grandes chances de
você não chegar aos 100 anos. Mesmo que decida começar a
seguir amanhã mesmo todas as indicações acima, sua
probabilidade de chegar lá é bem baixa. Isso porque a
genética também tem seu papel neste jogo - e estudos recentes indicam que
apenas 15% das pessoas possuem genes que as predispõe à
alta longevidade. E mais da metade dos centenários têm
parentes que chegaram aos 100 anos. Mesmo assim, estima-se que o estilo de vida seja
responsável por 70% deste cálculo.
Mas… digamos que você possa chegar até os 90 anos com saúde.
Infelizmente, o próprio Dan Buettner mostra que
apenas força de vontade não é suficiente para aumentar nossa
expectativa de vida. Para mudar, é preciso transformar uma
comunidade inteira e não apenas os seus hábitos, como ele
explicou em uma palestra no
TedMed (Como viver mais de 100 Anos).
Quem sabe um dia iremos chegar a um futuro próximo ao previsto
no livro As Intermitências da Morte, de José Saramago, que
inicia com a singela frase "No dia seguinte
ninguém morreu". No caso do livro, a
(ir)responsável por isso era uma Morte com M maiúsculo, que havia
simplesmente parado de realizar seu trabalho, resultando em um
cenário de calamidade, onde os velhos quase imploravam pelo
seu "descanso eterno". Mas a velhice da realidade parece
ser bem mais promissora que a encontrada na literatura: cerca de 2 terços dos idosos são
completamente independentes para as atividades da vida
diária.
Não é por acaso que a faixa da população que mais cresce no
mundo é a dos idosos com mais de 100 anos - em 2015, o grupo deverá
ser 20 vezes maior do que no ano 2000. Quando
voltamos um pouco no tempo, fica fácil perceber os avanços já
alcançados nesse sentido: entre os romanos, a expectativa de vida era de 20 anos e 90%
da população morria antes de completar seu 46º
aniversário. No Brasil, a expectativa média de vida
era de 33 anos em 1900, hoje, esse número subiu para 68
anos, mais do que o dobro. Por enquanto, resta esperar
e torcer para que, ao menos nesse quesito, estejamos cada
vez mais próximos das bactérias.
Fonte:
http://www.hypeness.com.br/2015/06/os-segredos-da-longevidade-voce-tem-feito-isso-certo/
Autora: Mari Dutra