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O processo de aquisição de conhecimento, de memorização e o efeito Dunning-Kruger

efeito Dunning-Kruger

Fonte: https://twitter.com/bibibailas/status/1259990677439434752/photo/1

Na medida em que se vive vamos aprendendo, mas as vezes temos uma sensação que voltamos para o mesmo ponto de partida, contudo quase sempre podemos afirmar que aprendemos algo.

Por exemplo, muitas vezes quando estamos caminhando para um determinado destino e nos damos conta que erramos o caminho, podemos continuar caminhando "as cegas", ou se for possível, retornamos para o ponto inicial e assim temos que procurar outro caminho alternativo se desejarmos continuar ir para o destino pré determinado.

Assim aprendemos que o caminho inicial que tomamos não era o correto. Neste caso estamos aprendendo pela tentativa e erro. Voltamos para o ponto de partida, mas já com outro nível de aprendizado e é como se a obtenção do conhecimento fosse obtida em forma de espiral.

Exemplificando:

Se estivéssemos escalando uma montanha poderíamos observar que demos uma volta inteira ascendente e agora estamos exatamente acima do ponto de partida, mas com outro nível de visão, pois nesta volta subimos um pouco mais.

Mas aí surgem algumas perguntas fundamentais - de que vale este aprendizado? Será que sempre aprendemos por tentativa e erro? Como iremos "conservar" este aprendizado? Como se dá o processo de memorização?

Se perguntarmos ao ChatGPT iremos obter a seguinte resposta:

A conservação do aprendizado e o processo de memorização envolvem complexos mecanismos neurológicos e psicológicos. Aqui estão algumas informações sobre como isso geralmente ocorre:

  • Codificação - O primeiro estágio envolvido na formação de memórias é a codificação, onde as informações são convertidas em um formato que o cérebro pode armazenar. Isso pode ocorrer por meio de diferentes tipos de codificação, como visual, acústica ou semântica, dependendo do tipo de informação.
  • Armazenamento: Após a codificação, as informações são armazenadas em diferentes áreas do cérebro. A memória de curto prazo é geralmente mantida no hipocampo, enquanto a memória de longo prazo é distribuída em várias regiões do cérebro.
  • Consolidação: O processo de consolidação é crucial para a transferência de informações da memória de curto prazo para a memória de longo prazo. Durante esse processo, as conexões sinápticas entre os neurônios são fortalecidas.
  • Recuperação:  A recuperação é o processo de acessar e trazer de volta as informações armazenadas quando necessário. Isso envolve a ativação de padrões específicos de atividade neural que foram formados durante a codificação e a consolidação.

Agora, em termos de estratégias para melhorar a conservação do aprendizado, aqui estão algumas dicas:

  • Repetição espaçada:Distribuir o estudo ao longo do tempo é mais eficaz do que estudar a mesma informação de uma vez.Isso ajuda na consolidação da memória.
  • Associação e relevância:Relacionar novas informações a conhecimentos prévios pode facilitar a codificação e a consolidação.
  • Uso de múltiplos sentidos:Engajar vários sentidos durante o aprendizado, como ouvir, ver e fazer, pode melhorar a retenção de informações.
  • Ensino para outros:Explicar conceitos a outras pessoas pode ajudar a consolidar o conhecimento.
  • Prática ativa:Participar ativamente do aprendizado, como resolver problemas, é mais eficaz do que apenas passivamente absorver informações.

Ainda sobre o processo de memorização e aprendizado vale a pena ler o excelente artigo Comprendendo o processo de aprender do Dr. Luiz Prigenzi (Médico, educador e pesquisador na área das ciências neurocognitivas). Neste artigo o autor afirma que o processo de memorização consiste em encontrar na memória a representação procurada para computar respostas adequadas às interações recorrentes do meio.

No artigo ele afirma que o cérebro é um sistema dinâmico que começa a dirigir perguntas ao exterior desde o nascimento e seu desenvolvimento está vinculado ao desenvolvimento das capacidades cognitivas. Processos de aprendizagem modelam o cérebro, dissolvendo conexões pouco utilizadas ou fortalecendo as ativas e de uso frequente. A multiplicação dos estímulos exteriores determina a complexidade das ligações entre as células nervosas e como elas se comunicarão entre si.

Ainda no artigo mencionado acima ele afirma que as emoções podem contribuir de modo expressivo para o processo de aprendizagem, uma vez que o significado que atribuímos a um evento depende principalmente delas. Quando uma pessoa é atingida por uma emoção, o cérebro pode encontrar a marca emocional da memória correspondente, ajudando-a a recordar e a recuperar a informação. A emoção pode ser um fator positivo ou negativo, mas, quando ela interfere no processo cognitivo, prejudica o aprendizado, uma vez que a atenção é desviada dos aspectos relevantes da tarefa.

É importante ressaltar que cada pessoa pode ter preferências e estratégias de aprendizado diferentes, e experimentar várias abordagens pode ajudar a encontrar o que funciona melhor para você. Além disso, manter uma boa saúde geral, incluindo sono adequado, alimentação balanceada e exercícios físicos, também pode ter um impacto positivo na memória e no aprendizado.

Neste sentido é importante lembrar que uma das formas de avaliar a nossa inteligência é saber aferir a nossa capacidade de transformar informação subjetiva e desagregada em algo objetivo e pontual para a resolução de problemas das mais variadas ordens e procedências. Nossa capacidade de transformar a informação em conhecimento.

Desta forma basta analisarmos nossos processos de aprendizado para percebermos que frequentemente não "checamos" se aprendemos efetivamente algo, pois na maioria das vezes não temos oportunidade de pôr em prática o que estudamos ou que "pensamos e julgamos" que aprendemos algo em nosso dia-a-dia. Seja porque na realidade não houve condições específicas para fazê-lo ou, se for o caso de já ter ocorrido a oportunidade, não obtivemos o "feedback" (retorno) específico para nos nortear sobre o nosso nível de conhecimento sobre o assunto.

Vale ressaltar a importância do "feedback" , pois de acordo com o livro "A arte de dar Feedback da Haward Business Review" um dos seus principais benefícios é aumentar a autoconsciência dos funcionários e estimular transformações positivas em toda a organização.

Além disso, o feedback é uma oportunidade para compartilhar observações sobre o desempenho profissional e evocar uma mudança produtiva. O feedback constante também pode ser dado para cima, para baixo, ou horizontalmente na hierarquia organizacional. Já o feedback formal, que acontece em um momento específico, pode incluir recompensas por mérito, bonificações e promoções. O feedback formal também oferece uma oportunidade de planejamento futuro para colaborar em novos objetivos para o próximo período de avaliação.

Levando-se em consideração que a maioria de nós sabe menos do que efetivamente julga saber, então por que será que sempre damos mais palpites sobre o que não sabemos do que sobre o que efetivamente sabemos?

Sobre isso é interessante observar o que é chamado de efeito "Dunning-Kruger": quanto menos uma pessoa sabe, mais ela acha que sabe "ou, por outro lado "quanto mais uma pessoa sabe, mais ela acha que não sabe", embora a experiência e a vivência no dia-a-dia nos mostre que quanto mais aprendemos sobre a vida mais percebemos que nada sabemos e o quanto ignorante somos.

Segundo os pesquisadores, esse preconceito surge porque a mente de uma pessoa ignorante não é uma lousa em branco, mas sim uma coleção de ideias e conhecimentos adquiridos ao longo da vida.

Nossos cérebros são máquinas incríveis que podem reconhecer padrões, formar hipóteses, inventar histórias e conectar informações. Isso significa que você não está sempre 100% pronto para lidar com um dado problema ou pensar sobre ele.

Mesmo que você nunca tenha estudado formalmente um tópico, isso não significa que não possa pensar sobre ele de forma racional.

É aqui que ocorre esse erro mental. Mesmo que não tenha conhecimento, você se sente capaz de falar sobre as coisas simplesmente porque tem coragem para fazê-lo.

Veja que o contrário pode também acontecer, ou seja, muitas pessoas (principalmente os tímidos ou retraídos) não falam porque simplesmente subestimam o próprio conhecimento.

(para saber mais sobre o efeito Dunning-Kruger clique nos links a seguir: https://bit.ly/47vXgRL  

https://jornal.usp.br/radio-usp/o-que-e-o-efeito-dunning-kruger/

Devemos também levar em conta que nestes tempos em que vivemos as redes sociais e a internet podem fornecer informações falsas. Isso às vezes pode ser chamado de "efeito Dunning-Kruger" em certos contextos.

As razões para esse sentimento incluem:

  • Excesso de confiança:  As redes sociais muitas vezes incentivam as pessoas a partilharem as suas opiniões e conhecimentos, o que pode levar ao excesso de confiança. As pessoas podem se sentir especialistas em um determinado assunto simplesmente porque as informações na Internet são facilmente acessíveis.
  • Viés de confirmação: As plataformas de mídias sociais geralmente fornecem informações e conteúdos consistentes com as opiniões e crenças existentes de um indivíduo, reforçando assim essas opiniões. Isto pode levar a uma percepção distorcida do conhecimento, uma vez que uma pessoa pode não estar suficientemente exposta a diferentes perspectivas.
  • Informações superficiais: O formato rápido e conciso das postagens nas redes sociais geralmente resulta na apresentação superficial das informações. Às vezes, as pessoas obtêm uma compreensão superficial de um tópico sem compreender verdadeiramente a complexidade subjacente.
  • Desinformação e notícias falsas: A rápida disseminação de informações online, muitas vezes sem controlos adequados, pode levar à propagação de desinformação e notícias falsas. As pessoas podem acreditar em informações falsas, o que pode levar a conhecimentos falsos.

É importante que as pessoas estejam conscientes destes desafios e utilizem o julgamento crítico ao consumir informação online. Encontrar fontes confiáveis, verificar fatos e interagir com diversas perspectivas são hábitos importantes para evitar as armadilhas das mídias sociais e da desinformação na Internet.

Finalmente devemos perceber que: "Se a nossa casa já está tão cheia de coisas, muitas das quais nunca utilizamos", não sobra espaço para adquirir mais nada, principalmente para novas ideias ou outras formas de encarar a vida.  Em muitos aspectos é melhor voltar ao ponto de partida e recomeçar do que continuar trilhando caminhos que não levam a lugar nenhum.   

A dica é procurarmos nos manter receptivos à novas ideias, mas confrontá-las com a nossa realidade e averiguá-las, checando se realmente são úteis e viáveis.